Seria a velhice um passaporte para a deselegância ou falta de bom senso?
Era 1997 quando o texto “Use Filtro Solar” rodou e emocionou o mundo. Acho que o termo “viralizou” ainda nem existia na época... mas, na linguagem atual foi isso que aconteceu: o texto viralizou Virou hit na voz de Pedro Bial e sua autoria foi creditada à diversas pessoas, entre elas, o escritor americano Kurt Vonnegut (1922-2007), especialmente para a formatura dos alunos do MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos.
Hoje se sabe que é de uma mulher: Mary Schmich, atualmente com 66 anos, americana, colunista do Chicago Tribune e vencedora de Pulitzer (categoria crônica). Mary escreveu o texto aos 43 anos, 23 anos atrás. A mensagem é sobre autocuidado, é sobre viver o presente, sobre a passagem do tempo, sobre rir de si... e o texto segue superatual.
Em entrevista (não recente, mas muito interessante) ao jornal britânico The Guardian, Mary conta que, aos 60 e tantos, adicionaria um conselho: “Há mais de uma maneira de viver a vida”. E você? O que acrescentaria? Eu não mexeria no texto de Mary, adoro! Mas, seguindo a mesma linha da narrativa dela, considerando os meus quase 54 anos, minhas rugas, minha vivência and 2020, tenho vontade de falar sobre a necessidade de outros filtros além do solar (ou daquele do aplicativo) especialmente para as minhas contemporâneas, quem tem 50 +. Contudo, é conselho sem idade.
Falo do filtro do bom senso. Daquele que separa o que é valor e o que é “nonsense” no caminho entre a ideia e o verbo, entende? Com a idade parece que esse filtro perde tanta potência quanto o colágeno, até que cai em desuso. Como se a velhice fosse o passaporte para a deselegância, como se expressar todo e qualquer absurdo (todas temos os nossos particulares) fosse um lastro da autenticidade.
Por muito tempo foi assim, eu acho. Existia o arquétipo da “velha que fala tudo o que pensa”, e, por isso, era tão cruel quanto divertida. E, claro, o arquétipo do velho rabugento e fofinho. Estamos indo para 2020, né? E esses arquétipos dataram faz tempo. O respeito, assim como a liberdade de expressão (que fique claro), ou a empatia, são (ufa!) valores reconhecidamente fundamentais em qualquer idade. E o tal filtro, que não é solar nem o virtual, é o caminho para colocar estas valias essenciais em prática.
Se é fácil exercitar esse filtro depois dos 50? Não. O mais fácil é sempre emendar a frase “tenho X anos, já ouvi muito, falo mesmo” depois de um escorregão entre os próprios preconceitos e sua verbalizações. Mas daí... o estrago já foi feito. E digo: é pior que o da pele curtida no Sol. Às vezes as mais sinceras desculpas têm o efeito de um hidratante qualquer.
Por isso, repito, até para mim: use o seu filtro, sempre. Se tenho dúvida da eficácia do meu filtro (às vezes falha) antes que as palavras passem pelos lábios, uso uma técnica que aprendi com o Deepak Chopra durante um curso na Califórnia…eu recorro aos meus três guardiões e pergunto para mim: é verdadeiro ? Gentil? Útil? Se alguma resposta for negativa, mudo o foco, o assunto e o meu olhar sobre a vida…