Para nossa colunista Adri Coelho Silva, um deles é o ensaio “Sobre Estar Doente”, de Virginia Woolf, um chamamento para a poesia e novas descobertas em tempos tão estranhos
Poderia ser o texto de um post atual, mas são as palavras iniciais da escritora Virginia Woolf no ensaio, Sobre Estar Doente: “Considerando quão comum é a doença, quão terrível é a mudança espiritual que ela traz”. Soa como hoje, não?
Por uma dessas boas obras do acaso, esse texto caiu nas minhas mãos, direto do livro “O Sol E O Peixe”, editora Autêntica, que reúne prosas e poemas da autora, cujas ideias parecem jamais envelhecer (assim são os valores, não é?). Em tempos de Coronavírus, iniciei a minha "Coroatena", a quarentena da coroa, com a leitura. Ler alimenta. E precisamos estar fortes, além de atentas, como na música, “Tudo É Divino e Maravilhoso”, como sempre.
Não é preciso estar doente para entender a mensagem da autora, que diz “entregues a nossos próprios recursos (...) é para os poetas que, de fato, nos voltamos”. Virginia relata que “na doença, as palavras parecem ter um elemento místico (...) aprendemos o que está para além de seu significado superficial”. Estar doente é estar profundo? E quem não está doente hoje, quando o mundo está doente?
Não é sobre ter ou não o positivo no teste que tão poucos têm acesso. É sobre sentir e se doar e tirar da teoria toda aquele discurso bonito sobre autocuidado, empatia, otimismo. E, então, buscar respiro, fôlego no que nos alimenta além do corpo. Eu comecei pela leitura, embora ame uma série.
Você já ouviu falar sobre Serenditpity? A expressão é de Horace Walpole, autor de 1754, famoso no Reino Unido pelo conto infantil sobre três príncipes do Sri Lanka que viviam fazendo descobertas aleatórias. Iam em busca de uma coisa encontravam outra ainda melhor...
Tinham sorte? Pode ser. A moral da história diz que o grande trunfo deles era mente aberta para novas possibilidades. O termo se popularizou no mundo e até a ciência tem casos assim. Eu me deparei novamente com o termo Serendipity na semana passada, em um papo. A primeira vez que ouvi foi na comédia romântica Escrito nas Estrelas, que em Portugal ganhou o título Feliz Acaso, que me parece mais alinhado com o significado. No filme, o reencontro do casal está atrelado ao livro O Amor nos Tempos do Cólera. Curioso, não?
Quando reencontrei o termo Serendipity estava em um sebo em São Paulo, em busca do livro A Velhice, de Simone Beauvoir, e em um papo com o livreiro veio a expressão, que agora coloco em prática. O momento é oportuno para descobertas inesperadas, para a poesia, para abrir a mente, não é?
Eu acredito que sim, por isso escrevo. E convido você a me mandar dicas de afazeres e relatar os serendipities e as poesias desses tempos tão estranhos. Pode ser bom para você compartilhar, pode ser bom para quem ler e temos que ressignificar o abraço que tanto precisamos. A alternativa podem ser as palavras e seus elementos místicos.
Já contei da minha lista Coroatena no @vivaacoroa e que eu e minha família estamos de quarentena, trabalhando remotamente, tentando se adaptar ao que parece ser impossível se adaptar.
Escrevi parece porque nessa altura da vida (quando a vista é linda, mesmo e apesar da visão já prejudicada), com antepassados que foram e voltaram de guerras, que atravessaram mares sem saber para onde ir, com a nossa experiência, sabemos fazer o impossível. Falo da
força ancestral feminina, que destaquei em um post recente. Convido você a ler. É tudo o que eu posso fazer: me recolher aqui e me expandir assim.
Até porque eu não sei mais do que você sabe sobre o Coronavírus. Só sei que poesia, palavras com efeitos místicos e serendipities podem ser bons paliativos.