Certa vez, ela saiu da quadra, pegou o microfone da técnica, e pediu para a torcida brasileira respeitar as adversárias, caso contrário, não jogaria mais. Era 1982. E a torcida hostilizava as atletas japonesas, arremessando objetos na quadra. Isabel já era "do vôlei”, assim como Zeca é Pagodinho, para dar um exemplo.
É coisa muito nossa (e bonita) renomear popularmente pessoas que brilham em suas áreas e paixões, dessa maneira tão cordial. Num primeiro momento parece que a pessoa é da paixão. O tempo explica, no entanto, que é o contrário. E por isso, e por causa do talento transformado em técnica, dá tão certo.
Pelo que li aqui e acolá, Isabel gostava de jogar e treinar vôlei e ponto. E nem acompanhava muito mais o esporte de quadra. Desde os anos 90 era do vôlei de praia, a Isabel “da família”, avó de 5, mãe de 5. O episódio de 1982, que citei acima, mostra a Isabel "do respeito" também. Logo, Isabel "da diversidade".
Cortadora, tinha força, atitude e potência. Nem todo mundo gosta disso. Mas e daí?
Tem uma entrevista muito bacana dela, no portal Saque Viagem. É de 2020, assinada por Sidrônio Henrique. Em uma resposta, ela diz "Eu tive tantos rótulos, mas nunca embarquei neles, pois o cara que hoje me chama de musa, amanhã me chama de indisciplinada ou de outra coisa”.
Musa é o tipo de adjetivo que pode aprisionar na vaidade, né? Isabel nunca estacionou nem em rótulos, nem na vida. Foi mudando, evoluindo. Estava mudando até essa manhã… a partida dela foi um corte violento e me deixou triste 😞
Deixo aqui meu carinho e admiração. Meus sentimentos aos filhos, netos e amigos de Isabel, que era “do “vôlei”, mas era deles, e vice-versa. Isabel deixa um exemplo de pioneirismo, autenticidade, de movimento na vida, de alguém que achava engraçado ser chamada de “do vôlei” e aceitava musa, mas não se entregava.
Que coroa! E ainda era uma baita gata.