Ou, como a tal libertação dos padrões pode ser assustadora
E, daí, Keanu Reeves dá pinta de mãos dadas com uma mulher no tapete vermelho de um evento da Gucci, em Los Angeles. A primeira mulher com quem ele aparece em público, depois de 20 anos. E essa mulher não se parece com nenhuma das que seguem e se rendem a todos padrões e protocolos de beleza. É linda. Mas tem cabelos brancos, nenhum sinal de harmonização, preenchimento ou de toxina botulínica no rosto. Uau, que espanto!
Mais: essa mulher não é uma influencer digital, nem uma modelo, nem atriz, nem herdeira de uma gigante fortuna. Que estranho, né? É realmente muito estranho e assustador como, apesar do discurso da diversidade, estamos sempre esperando pelo mais do mesmo. É terrível saber que, de maneira geral, há mesmo uma abdução pelos padrões em um contemporâneo tratado como “transformador e livre”.
Lendo isso você pode debochar “Rá, mas todo mundo quer ser/parecer jovem”. Será que é mesmo todo mundo que está na prisão desta ilusão? Eu acho que não.
Como já é sabido, Alexandra é artista plástica. Tem uma série chamada Love (amor) . “Yo Soy O que Veo”, “I Was born To Love And Not Hate” e “My Self Is Another” (respectivamente, “eu sou o que vejo”, “Eu nasci para amar e não para odiar”, “O eu é um outro”), são títulos de algumas de suas obras. As frases são respectivamente inspiradas em escritos do autor mexicano Jorge Volpi, do movimento hippie e beat americano e do francês Sartre. As diferentes fontes revelam uma mulher que viveu diferentes culturas, que experimentou o México e a França até viver em Los Angeles. Os suportes são diversos (neon, adesivo, metal) e os anos de realização de cada obra espaçados. Por que cito isso? Porque vejo dinamismo, propósito e uma mensagem explicita de crença no tal do amor. Segue o baile...
Mas o mais interessante é que Alexandra Grant não é nova escolha de Reeves. Eles se conhecem faz tempo. Consideram-se desde 2016, parceiros criativos…foi assim que Alexandra foi descrita por ele em uma matéria para Vogue Espanha, ilustrada pelas lindas fotos acima. Alexandra também não é “velha” … é simplesmente natural (e eu não entendo velho como depreciativo, assino um canal para mulheres 50+, deixo bem claro). Ela tem 46 anos, mora em Los Angeles, talvez com Reeves, talvez não. Nas pesquisas que fiz pelo Google, os algoritmos não entregam se dividem a mesma casa, mas deixam claro que compartilham a mesma filosofia de vida e valores, são filantropos, acreditam na arte como expressão, que rodaram o mundo.
Ela ilustrou dois livros escritos por Reeves, tem um projeto em que coloca a sua arte a serviço da geração de renda para novos artistas, além de obras de arte com passagens e no acervo de importantes museus, como o LACMA, de Los Angeles. Ele, bom, você sabe, e além disso, doa mais da metade de seus cachês para organizações dedicadas a pesquisar a cura do câncer, tocou numa banda de rock chamada Star Dog, como baixista, e poderia ter sido profissional do Hockey. Se são namorados? Não sei. Estavam de mãos de dadas e trocavam olhares de cumplicidade.
Fui conferir a foto de Grant & Reeves à convite de Paula Merlo, Diretora da Vogue Brasil. Em um áudio ela acendeu o farol “Keanu Reeves tem uma nova namorada. Dá uma olhada?”. Ao cruzar com o buzz da vez, ela encomendou uma pensata, que faço assim, em minutos, como vem à cabeça. Olhei a foto pela primeira vez e vi um astro do cinema de mãos dadas com uma mulher no tapete vermelho. Depois revi e só enxerguei tudo isso: duas pessoas felizes, de mãos dadas. Um homem lindo e feliz, bem vestido, bem sucedido, dando a mão e conduzindo uma mulher. Em seguida, assisti uma sequência de reações reacionárias, gerontofóbicas, infelizes. Por isso decidi escrever sobre o tema, sem esbarrar no cliché, “mas e se fosse um homem mais velho e uma mulher mais nova?”. Respirei fundo, desviei. Eu vivo com 54 anos em 2019. Não perco tempo com isso. Mas ainda me assusto com a pasteurização de tudo, inclusive do amor.
Escolho não acreditar nisso. Escolho ver uma mulher e um homem felizes, em harmonia, representando um romantismo que se anseia mas que…você sabe. No fim, como diz a obras supracitada obra de Alexandra, “Eu sou o que eu vejo”. E você?