Enquanto as meninas #facetunes herdaram nossa paranoia estética, as garotas #livredospadrões apresentam novos caminhos. Será que a aparência pode nos traduzir?
Um dos episódios da atual temporada de Grace & Frankie mostra como seria a vida das protagonistas caso elas não tivessem se unido. Nele, Grace, interpretada por Jane Fonda, estaria com o rosto deformado por retoques estéticos exagerados. Seria menos segura, menos feliz, menos independente. Não é curiosa essa relação entre o menos (do ser) e o mais (do parecer)? Eu achei e por isso fiquei aqui pensando nesse tema.
Nada contra intervenções estéticas, que fique claro. Eu mesma fiz algumas: botox, preenchimentos, prótese de silicone e estou sempre de ouvidos bem atentos aos novos procedimentos. Contudo, nesse exercício de entender, aceitar, abraçar e aproveitar o envelhecimento, tenho pegado cada vez mais leve na dermatologista, ao passo que me sinto cada vez mais segura, mais feliz e mais livre. Ou seja: olho mais para dentro do que para fora, sem cair no desleixo, é claro.
Faz sentido para você? Também se sente dessa forma na nova maturidade? Enquanto monta seus argumentos (me conte sua opinião, por favor, a ideia é trocar, sempre) sobre a possibilidade de ver a beleza além da aparência física e da pele, reforço algumas impressões que tive ao assistir o episódio.
Ao ver a personagem de Jane Fonda exageradamente “mexida” lembrei de todas as consequências de quem, como nós, viveu as décadas das descobertas estéticas. Fomos nós as cobaias do facelift, depois da lipo, seguida dos peelings abrasivos, implantes de silicone, além de botox, preenchimentos e lasers....
Até meados dos anos 90, esses procedimentos só eram acessíveis para as muito ricas e muito famosas - tanto que o cirurgião plástico Ivo Pitanguy era tão célebre quantos suas pacientes, lembra? Na época, tudo muito novo, tentador e secreto. Mesmo quando os procedimentos se popularizaram, eram feitos em segredo e até negados. E diante da ideia da beleza perfeita e da submissão aos padrões, não se pensava nas consequências, no resultado a longo prazo ou no acúmulo. O exagero era a regra.
Se hoje as coisas são diferentes? A gente sabe que não. Eu tenho lido muito sobre a chamada “geração Facetune”, formada por mulheres de 45 anos ou menos, que têm como referência de beleza aquelas simuladas pelos filtros e aplicativos: com peles sem poros ou marcas do tempo, narizes finos, bocas carnudas… Uma beleza conquistada por cirurgias e intervenções variadas. Dizem até, que muitas mulheres levam autorretratos e até mesmo selfies alteradas em aplicativos para os consultórios de dermatologistas, plásticos e dentistas. Querem ficar igual a imagem do filtro.
A revista New Yorker abordou o assunto recentemente. O site Nowness apresentou um vídeo divertido e assustador sobre o mesmo tema. Eu, que já vivi um tanto mais, penso no acúmulo desses procedimentos com o correr dos anos, no que se passa da pele para dentro de quem quer parecer irreal. E no que essas mulheres herdaram da nossa geração. Será que temos culpa? Talvez.
Digo talvez porque eram outros tempos. E porque vejo que há mulheres que não só negaram a herança maldita dos padrões de beleza, como fizeram uma grande revolução. Em tempos de opostos é tudo ou nada, afinal. Falo do pêndulo do lado oposto.
Caso não conheça Lena Dunham, dê um Google já. Estrela do seriado Girls, onde também era a roteirista, ela é a musa da geração Y, garotas que nasceram entre 1980 e 1990 e que se libertaram de todo tipo de padrão estético, assumindo pelos, se orgulhando das formas, parecendo e sendo felizes em suas próprias peles.
Eu não consigo entrar na onda - acho até meio exagerada - mas ao olhar para essas jovens com seus rostos e cabelos naturais e seus corpos diversos, consigo ver além da pele e da beleza que os olhos captam. Eu vejo segurança, liberdade, felicidade.
Vejo nelas um tanto da Grace que escolho como modelo para mim: a mais natural (ainda que retocada), a mais sofrida, a mais vivida, autêntica, mais enrugada, mais segura e por isso mais bonita.
Cada vez mais entendo a beleza como autenticidade e liberdade. O tempo (rei) já deu a deixa para essa conclusão. E daí você pode pensar: fazer o que quiser com o rosto e o corpo não é ter autenticidade? Há controvérsias, acho que depende da motivação, se for para se enquadrar em um padrão X ou Y é o avesso da autenticidade, não é? Deixo a pergunta no ar.
Entre a beleza madura super retocada e a sem retoques, prefiro o caminho do meio. Entre #facetunes e #livresdospadrões, hoje, vou mais para o caminho da turma de Dunham, mas com muitas exceções. Nenhum tipo de exagero é saudável.
Usando uma frase bem 50+ “A dose determina se é remédio ou veneno”. Qual a sua opinião? Você relaciona o exagero externo com vazio interno? Acha que as Facetunes são herdeiras das paranoias da nossa geração com o padrões de beleza? Quais são as novinhas que te inspiram? Por que? Você é quem parece ser?