Liberdade e invisibilidade. Combina? Faz sentido para você? Depois que ouvi a fala do vídeo acima, infelizmente, passei a entender que liberdade não só pode, como tem, muita relação com invisibilidade, especialmente para mulheres 60+.
A cena é de Grey’s Anatomy, e é um desabafo desajeitado mas importante sobre a misoginia, o machismo, o patriarcado e o etarismo.
A personagem deixa claro que ganha “poder" sentir prazer e ao fazer sexo, uma vez que, finalmente, mas infelizmente, ninguém mais a vê, ninguém a enxerga… e isso é uma perda.
Antes da invisibilidade feminina acontecer, existe a patrulha do feminino ideal. Ou seja, até a mulher ser ignorada, ela é vigiada, cobrada, julgada.
A invisibilidade feminina 60+ não é mimimi e nem ligada a objetificação feminina. Isabel Allende, a grande autora, fala sobre o tema no ótimo podcast “Wiser Than Me”, apresentado por Julia Dreyfus, por exemplo.
Ouço muitas mulheres fazerem esse relato. O termo é invisibilidade mas o ultrapassa, e engloba a maneira como nos escutam ou deixam de escutar, como nos tratam ou deixam de nos tratar.
Essa personagem, para mim, mostra um lado aparentemente positivo, um alívio desse descaso. Ela "pode ter prazer e transar” livremente, coisa que “pega mal” para uma "mulher direita” nos anos em que ela não só é visível, como é cobrada cruelmente pela sociedade… que tem um molde para a mulher perfeita.
Samantha, a personagem que amo e está no post de ontem, entrou no molde ideal comportamental dos homens só que no corpo de uma gostosa com sucesso profissional e independência financeira. Resultado: é uma personagem que divide opiniões.
Quem a vê como liberdade, a celebra, mas não muito porque pode pegar mal. Quem a vê como ameaça, a rechaça e muito, porque “pega bem” se opor ao que sai do padrão, do que é seguro para quem cria as regras.
Até quando? Me diz?
Eu sinto o alívio dessa personagem de Grey’s Anatomy. E também o desespero. E me movimento como posso para que a liberdade venha desacompanhada da invisibilidade. E você? Me conta?