A capa da invisibilidade não nos veste bem — e eu vejo você!
Quando eu era criança — e já vai tempo — fantasiava sobre ser invisível. Imaginava as “peças” que pregaria, as conversas que ouviria, os lugares proibidos em que eu poderia estar. Adorava a ideia! Me divertia com ela! E eis que, como que em um passe de mágica, uns seis anos atrás, tudo aconteceu de verdade. Sim, eu me tornei invisível. E invisível até para mim.
Eu tinha uma imagem refletida ali no espelho, mas não a reconhecia totalmente como minha. Tinha outra textura, outro aspecto. Falava com meus filhos e marido e eles não viam nada. Minhas amigas também diziam não ver. Foi na pele que enxerguei. E isso me deixou aliviada.
Com o tempo, além de não ver a minha pele como eu via, os meus filhos não me viam de um modo geral mesmo quando eu estava bem em frente a eles. Eles passavam pela sala, não me viam, nem me ouviam, teclavam no celular, entravam e saiam de casa e a situação se repetia. Marcar um médico para eles era impossível porque… não me viam e só me escutavam no berro. Diziam que eu andava MUITO nervosa. E eu estava mesmo nervosa e invisível. E com uns calores incontroláveis. Comecei a pensar que o problema era eu.
A realidade parecia ser uma para mim, outra para o mundo. Nas revistas, nas campanhas de moda, todas as mulheres eram muito diferentes de mim. Eu não me via em nenhum lugar, nem no catálogo daquela marca de moda que sempre amei e me representou tão bem.
Eu me lembro de ter ido à farmácia em busca dos cremes caros e vitaminas recomendados pela médica e não me ver nem mesmo nas embalagens e propagandas daquilo que era indicado para mim. Só via garotas nas imagens e nenhuma delas com a mesma aparência que eu. Contudo, sempre sigo recomendações médicas, e portanto, comprava tudo.
Com o tempo tudo ficava cada vez mais distante de mim e das minhas fantasias infantis. Ser uma mulher invisível era não ter qualquer poder. E as sensações começaram a chamar a minha atenção. Meu marido sentia frio, eu sentia calor. Eu via a vida com cores sóbrias, minhas amigas mais novas pintavam um mundo de lindas cores. Eu comia menos, ganhava mais peso. Minha cabeça mais doía do que pensava. E ao passo que tudo isso se intensificava, eu ia ficando mais invisível para mim porque não me reconhecia. Eu ficava mais invisível para os meus porque acreditava que eles não me reconheciam. E eu ficava mais invisível para o mundo porque a sociedade só enxerga o que quer — e não quer o envelhecimento.
Ser invisível foi uma das piores experiências da minha vida. Mas passou. Não que eu tenha deixado de ser invisível em um passe de mágica. Levou tempo, autoconhecimento, muito pensar, muitos exames, ginecologistas e mais. Ao passo que eu enxergava a passagem do tempo em mim, eu ficava mais visível para o todo. E é curioso: embora a invisibilidade 50+ feminina seja uma patologia da sociedade, quem tem que se tratar é a pessoa que deixa de ser vista — e a cura e o tratamento são individuais e personalizados. Com ajuda médica é mais rápida e efetiva.
É curioso sim, mas tem lógica tudo ser assim: transformações efetivas são as de dentro para fora, o todo só cresce com a evolução do indivíduo, médicos e exames não só podem curar doenças como proporcionar mais vida e qualidade de vida.
Entendi tudo isso com a ajuda de profissionais especializados em menopausa. Até consultá-los, eu entendia o que acontecia da pele para fora — envelhecimento e invisibilidade — porém ignorava a causa, que estava da pele para dentro. Recessão de óvulos, hormônios em transe, emoções e sensações rebeldes, era isso que estava mudando a minha aparência e a minha maneira de reagir à vida. Filhos crescidos e independentes, marido em outra estação (eu sempre no verão, ele no inverno) contribuiriam para tanto. E foi muito. E ainda tinha o tabu.
Pegava muito mal falar sobre o assunto para além dos consultórios — lugares em que eu sempre me senti muito bem vista e cuidada. A palavra menopausa fazia as pessoas arregalarem os olhos e virarem para o lado nas conversas da vida. Era como se eu estivesse querendo abordar algo muito horrível, tenebroso, contagioso, ainda que a minha interlocutora estivesse na mesma que eu. Fui insistindo — porque sou de capricórnio, ou seja, teimosa.
De tanta teimosia, um dia ouvi um “eu também sinto isso”, e a fala veio acompanhada de um olhar muito especial, o de empatia. Fui finalmente escutada e vista. E vi e escutei. Comecei a praticar até se tornar um hábito. Todas as vezes que alguém me ouvia, também me via mais. Toda vez que eu ouvia alguém percebia que essa pessoa se sentia não só compreendida, como enxergada, acolhida, amada. O hábito se tornou rotina e a vida mudou.
Com o tempo a imagem refletida no espelho foi ganhando um brilho — e era bem diferente daquele da juventude. Era algo novo e bem especial. Foi aquela menina que queria ser invisível que me contou que esse brilho vem de todas as mulheres que estão na mesma que eu… ou seja, se enxergando pela empatia. Dessa vez, ela está certa.
Vejo cada vez mais mulheres 50+ realizando sonhos, trocando e evoluindo. E amo ver elas cuidando de si de dentro para fora, consultando médicos, realizando exames, enxergando a saúde que têm e a que podem ter. Nada é por acaso. E por isso escrevo essa história aqui, no portal Nav, dedicado à saúde. E você? Me conta?