Com apenas um ano de carreira, modelo mora no Rio desde 2015
"Quem é essa mulher?”, eu me perguntei, admirada, assim que bati os olhos na imagem de uma mulher de cabelos brancos e rosto tranquilo na campanha da Amsterdam Sauer. Senti um de-ja-vú. Lembrei de Cate Blanchett e, em seguida, em outra linda campanha, a da marca Paula Raia. Era a mesma modelo: Sheila O’Callaghan.
Diz que a curiosidade faz a mente jovem. Por isso, sempre alimento a minha. Nesse caminho cheguei à agente de Sheila, Ciça Rainha, da agência Joy Model. E ouvi: “você tem que conversar com ela.” Liguei para Sheila. Fui recebida com uma voz calma e calorosa, com um português pontuado por um charmoso sotaque. Como são tempos pandêmicos, combinamos mais uma conversa via zoom, porque queria muito compartilhar a história e a imagem de Sheila com você.
Aos 50 anos, ela mora no Rio de Janeiro desde 2015 e é modelo há um ano. “Estava em um mercado aqui no Rio de Janeiro e fui abordada por um rapaz. Ele se aproximou perguntando: quem é você?, em um tom animado”, conta ela, que desperta mesmo esse tipo de reação…
“Ele me contou que trabalhava com moda e que eu tinha que ser modelo da sua nova coleção. Eu ri. Seguimos em um papo interessante, acabamos trocando telefones e quando vi, estava em um set de fotografia, aos 49 anos”.
Sheila trabalhou como jornalista por mais de duas décadas. Morou em diferentes países da Europa e entrevistou várias personalidades e políticos, como Yasser Arafat. “Viajava meio mundo, passei por 89 países, e muitas vezes me perguntavam nos aeroportos se eu era modelo, porque sou longilínea. Eu respondia orgulhosa: sou jornalista”.
No entanto, por duas outras vezes, a oportunidade de ser modelo ‘pintou’ na vida de Sheila. Aos 20 anos, fez um book e um único trabalho: a capa de uma prestigiada revista irlandesa. Mas não era seu foco. O que mudou dessa vez? “Eu me perguntei: por que não? E decidi me dar essa oportunidade. Volto energizada dos sets, onde sempre sou a mais velha, e posso trocar com outras gerações. Estou gostando muito, me dedicando, me envolvendo”, conta ela. “Sempre chego em casa com uma nova história para compartilhar com o meu marido”, completa.
Sheila é casada com Christian Kostner, empresário alemão que ela conheceu em Londres, mas que foi criado no Rio de Janeiro, e que desde 2015 comanda o Vinu Club (https://vinu.club), uma empresa do setor vinícola no Brasil. Esse foi o motivo da vinda da modelo para o nosso país. "Fui muito bem acolhida”, diz ela, que mora no bairro carioca da Gávea e, diariamente, caminha e pratica yoga na floresta da vizinhança. “A natureza me faz bem, é o lugar onde eu me conecto. Muitas pessoas dizem que sou louca por caminhar pela mata sozinha, mas isso para mim significa liberdade”.
Acasos fazem parte do enredo de Sheila. Ela, que nunca sonhou em casar, encontrou um homem que a fez mudar de ideia. Ela, que também nunca pensou em ser modelo, se transformou em uma aos 50. Ela, que foi comprar castiçais em um antiquário carioca e voltou para a casa com um cachorro. “O Panda tinha acabado de ser resgatado das ruas pelo dono do antiquário. Eu e Panda tivemos uma conexão imediata. O antiquário sugeriu que eu adotasse, eu pensei: não, vim aqui comprar castiçais e voltei para casa. Em seguida retornei para adotá-lo.” O cão é seu fiel escudeiro. Juntos, os dois também passeiam pela orla do Rio de bicicleta, ele sempre na garupa ou a bordo do Fusca 1968 da Vinu Club.
Ouvir a história de Sheila me inspirou a ficar ainda mais atenta ao acaso, à flexibilidade de ideias e, ao novo, em qualquer idade. Quis saber quem a inspira. Ela deixou claro: “Eu não apoio essa cultura da comparação. Entendo que cada um tem uma vida, uma história, uma personalidade, por isso nunca usei a vida de ninguém para me inspirar, mas admiro muitas pessoas e muitos estilos de vida”, diz.
A modelo tem algo magnético, certamente porque ela se sente muito bem na própria pele. “Meu pai sempre disse para eu não ser uma ovelha, para explorar meus desejos e afirmar minhas convicções. Ele mesmo era muito autêntico, ficou viúvo, criou a mim e minhas irmãs em uma pequena aldeia na Irlanda com menos de 100 habitantes”, narra ela, que tinha 4 anos quando a mãe faleceu.
"Meu pai plantava e comercializava árvores de natal, tinha alma de arqueólogo, nos motivava a respeitar as nossas diferenças e a ter coragem de fazer nossas escolhas. Na época da faculdade, ele me encorajou a ir morar em Paris e a experimentar a vida, porque esse era o meu sonho”, completa ela.
A figura materna fez falta, é claro. Sheila vai a esse momento quando fala sobre o tanto que sofreu durante a menopausa precoce, aos 47 anos. “Eu me senti tão para baixo, não entendia o que estava acontecendo, queria que minha mãe estivesse viva para me ajudar”.
Tem como não se emocionar? Serena, ela diz que foi uma fase terrível, mas que encontrou nas amigas o caminho para reencontrar o equilíbrio emocional. E credita o equilíbrio físico ao aconselhamento de um nutricionista.
Papo chato? Ela diz que não, porque passou e destaca a necessidade de falar sobre o tema e em compartilhar informações e apoio. E Sheila não é de se prender ao passado. “Vivo o presente. Sou resultado dos erros acertos que vivi nos meus 20, 30, 40 anos e não tenho nenhum arrependimento. A maturidade me deixou mais presente e mais centrada. E é isso que quero aprimorar pelos próximos 50 anos que tenho para viver bem.”
Ainda bem que fui atrás da resposta para pergunta: “quem é essa mulher?”. Sheila é mesmo um mulherão. E durante a quarentena ainda começou a fazer bolos deliciosos…