Conheça a trajetória, ideias e dicas de Carola MB Matarazzo, das mais importantes vozes da filantropia no Brasil
“É preciso entender que somos efêmeros”, diz Carola MB Matarazzo, diretora executiva do Movimento Bem Maior, conselheira da Artesol e do Instituto Protea. “O terceiro setor desperta a empatia e a indignação. Todos os dias busco a famosa resiliência”, afirma ela, que está na “estrada da filantropia desde os 18 anos", quando começou a trabalhar como voluntária na Liga Solidária, trilhando um caminho que a levou até presidência.
"Cresci em uma casa onde a solidariedade, a escuta e o olhar sempre foram valores importantes e tive bons exemplos dos meus pais”, diz. Contudo, a solidariedade não foi sua primeira escolha. Carola formou-se em administração de empresas, e antes de abraçar o terceiro setor como profissão e propósito de vida, teve uma marcenaria de objetos para casa e uma loja de tecidos para decoração. “Até já vendi almofadas de retalho de tecido no Shop Time!”, diz. E quem é coroa lembra bem desse “programa de TV”, que era um sucesso nos anos 90.
“Digo que o terceiro setor é um caminho sem volta. A possibilidade de transformar é inspiradora”, afirma Carola. “Para quem quer começar sugiro pesquisar como se fosse abrir um novo negócio. Não importa se a ONG é grande ou pequena. O importante é tocar o seu coração e ajudar", diz ela, mãe, “super coruja", de 3 filhos, Mariana, Lucas e Gabriela, respectivamente arquiteta, sociólogo e estudante de cinema. Será que os três escolheram as ciências humanas por acaso? Leia a entrevista a abaixo e tire suas próprias conclusões.
5 PERGUNTAS PARA CAROLA MATARAZZO
O que mudou na sua vida depois que você começou a trabalhar no terceiro setor?
Depois que aceitamos andar por esta estrada, a indignação é inevitável, e nos move por caminhos antes nunca percorridos. Acredito que me tornei uma pessoa muito melhor, com o aprendizado diário do valor das pessoas, das relações, dos sentimentos e dos encontros, mas principalmente com a possibilidade de auxiliar mudanças sociais tão necessárias. Mas não é fácil e não é muito simples... todos os dias busco a famosa resiliência. O terceiro setor é um mundo de pequenas vitorias diárias mas de grande impacto, traz uma dimensão diferente da vida.
O tão falado trabalho em rede, descentralizado, em parceria, onde a escassez de recursos é uma realidade e a criatividade é ferramenta diária, se transformam em ativos diários e para a vida. Eu me tornei mais empática. Ficou claro o sentido da interdependência... somos todos co-responsáveis pelas condições do mundo em que vivemos. O problema não está no outro, a solução também não. Ambos estão nas escolhas diárias de todos nós! A coerência, a humildade também foram potencializados em mim, assim como a busca por caminhos de convergências para o bem comum.
O que falta para a cultura de filantropia ganhar força no Brasil?
Entender que somos efêmeros e que não podemos acreditar que essa é uma missão só do governo. Políticas públicas são muito importantes, mas a sociedade civil organizada tem um papel central na construção de uma nação. Depende de todos nós, somos co-responsáveis hoje e no futuro.
Como escolher uma ONGs ou campanha para ajudar ajudem nesse momento?
Ajude a organização tenha uma causa que move o seu coração. Converse com seus filhos e amigos, pesquise! Quando vamos fazer um negócio profissional, costumamos nos informar, buscamos conselhos, analisamos dados, ouvimos o coração e a intuição. Use a mesma lógica. Conheça as demandas do seu bairro, cidade ou país. Olhe para aquela pequena organização que faz a diferença no seu bairro ou para aquela que uma amiga indicou. Escolha o que inspirar o seu coração e ajude. Há muita gente trabalhando muito sério nas diversas causas.
A pandemia despertou a vontade de doar e ajudar. Será que o brasileiro seguirá solidário pós pandemia?
Tento ser otimista todos os dias quando penso como serão as sociedades pós pandemia. Desejo mudanças sistêmicas nas economias, nos sistemas de poder, de sustentabilidade ambiental, nas relações comerciais e interpessoais. Precisaremos nos reorganizar em conceitos e prioridades e o começo é agora. Torço para que a filantropia seja rotina, é impossível se conformar com a desigualdade que vemos nas ruas todos os dias, com a fome, a falta de saneamento básico, a falta de habitações, de leitos hospitalares. A falta existe por muitos anos, mas ficou escancarada e espero que não seja esquecida. Espero que este sentimento de solidariedade e a filantropia se mantenha para um mundo melhor para todos.
O que te inspira?
A possibilidade de transformação me inspira. Também me inspiro em líderes comunitárias e religiosas que levam palavras e ações de conforto, além de pessoas pelo mundo que dividem ou dividiram generosamente seus talentos conosco, como Adelia Prado, Zilda Arns, Ruth Cardoso, Melinda Gates, Michelle Obama, Scott Morinson, Angela Merkel, Lady Gaga, Meryl Streep e mais mulheres…O tecido social tem mil tramas e cores, e pode ficar muito harmonioso se for bem cuidado e preservado.