Nossa nova colunista Adri Coelho da Silva fala sobre reposição hormonal e outros assuntos quase secretos de mulheres que estão ou já venceram o climatério
Estava em um almoço quando “blim”! O assunto “cálvice” apareceu na mesa. Éramos duas mulheres e um homem, bem cabeludo, aliás. E falávamos dos nossos cabelos fugitivos e não das carecas masculinas. Eu, 53 anos, contei que os fios estavam quase despencando durante o banho, um fenômeno pós-menopausa. Ela, prestes a completar 50, comentou que “ainda” estava bem, mas receosa: percebeu uma “clareira” no topo da cabeça de uma tia que outrora tinha uma vasta cabeleira.
Protocolos de beleza para brecar o desmonte capilar foram elencados: lasers, pílulas, injeções no couro cabeludo e também tratamentos não invasivos como o PhytoDensia, da Phyto Brasil, que estou usando e aprovando. Pensa que o papo acabou com a troca de dicas estéticas? Não. Passou pela moda atual, a dos cabelos supercompridos e volumosos, como a Vogue já direcionou. E o assunto seguiu ... até chegar ao uso do testosterona. O hormônio sempre associado ao universo masculino, já faz um tempo, é presente e celebrado no feminino.
“Eu uso, faço reposição hormonal”, contei. “Mas não faz o cabelo cair mais?”, ela perguntou. “Não notei se começou a cair ainda mais depois do uso do testosterona, mas é uma escolha”, respondi. "Chega uma hora que temos que priorizar o que queremos e prefiro o bem-estar diário e a disposição. Escolho a testosterona”. Ela continuou e emendou outra pergunta: “e aumenta a libido, não?”
Sem qualquer conhecimento além do prático, respondi que sim. Pronto, nascia assim, na mesa do restaurante Due Cuochi Cucina, em São Paulo, o tema desta coluna de estreia do Viva a Coroa no Sem Idade. Porque sim, passar pelo climatério, os longos anos que precedem a menopausa, é uma vitória. Sair do período com a personalidade, a saúde, o humor e os relacionamentos imunes... bem, é um milagre.
Até porque trata-se de uma fase solitária. Do mesmo jeito que “não pega bem” falar abertamente sobre cálvice e libido feminina pós 50 anos, é “deselegante” colocar na mesa a pré-menopausa, a menopausa e todas as suas transformações. A foto de Samantha, a personagem mais velha, mais livre e mais polêmica do seriado Sex And The City, não está aqui à toa.
Sam não tem uma vasta cabeleira, em compensação a libido, você lembra, né? Em uma das cenas mais icônicas do segundo filme Sex And The City, a personagem de Kim Catrall tem seu necéssaire confiscado na imigração de Abu Dhabi. Ela se desespera, já que os hormônios dela estão todos ali. Ninguém em cena (com exceção de Carrie, é claro) tem compaixão ou empatia por ela. Eu imediatamente pensei que a abraçaria.
Eu preciso de reposição hormonal. Uma necessidade descoberta após exames específicos (testosterona total livre e os DHT, SDHEA DHEA SHBG). Foi uma descoberta que mudou a minha vida: fiquei mais animada, disposta, bem-humorada, a pele melhorou, o tônus também, a lubrificação e o tesão idem. Falar sobre menopausa e hormônios causa mais choque do que ler as palavras lubrificação e tesão escritas por uma mãe de mais de 50 anos, eu sei.
Mas é tesão de vida e sexual. É vontade de sair fazendo as coisas, de vencer a tendência ao isolamento que, nesta fase da vida, assola principalmente as mulheres que não trabalham fora de casa. Certa vez, publiquei um post sobre reposição hormonal e menopausa no meu Instagram, o @vivaacoroa, um canal para expressão e trocas. Li de um tudo e tudo em extremo. Ou apoio total ou condenação total.
Os médicos também se dividem, contudo há um consenso de que quem histórico de câncer não pode fazer e que com a dosagem certa (e o acompanhamento devido) os riscos colaterais, que podem ser graves e incluem o câncer, são minimizados ou até inexistentes. A dosagem certa também garante os efeitos desejados por quem gosta de viver bem e tem produção hormonal reduzida.
Dra. Maria da Penha Barbato, ginecologista, conta que o pico de produção natural do hormônio se dá entre os 18 e os 24 anos em mulheres. “Com o passar do tempo diminui e se tiver falência, é preciso repor. Para mulheres na menopausa ajuda nas capacidades cognitivas, no fortalecimento esquelético e muscular”. Mais: “Estudos mostram forte relação entre a frequência do desejo sexual e da masturbação com a concentração de testosterona total e livre”, completa Dra. Penha.
Ouvi especialistas e também muitas mulheres, amigas. Sou curiosa e, recentemente, aprendi com Costanza Pascolato, que curiosidade também é amor. Sobre a relação queda de cabelos X hormônios, a dermatologista Dra. Carla Vidal explica: “De maneira geral, há relação com excesso de testosterona e cálvicie, sim. Mas há quem tenha altos índices de testosterona e não apresente o problema. Isso porque a carga genética é muito relevante nesta questão”.
Quando liguei para a Dra. Luciane Scattone, dermatologista, ela estava saindo de uma reunião com médicos de diferentes segmentos em uma multinacional dedicada ao mercado de saúde e estética. E adivinha a pauta da reunião? Testosterona e mulheres.
“Importante dizer que após um ano de uso contínuo com exagero, além da queda de cabelo possível, nascem pelos no rosto, os traços das mulheres podem mudar e o clitóris realmente aumenta”, conta. As duas médicas, Dra. Carla Vidal e Dra. Luciane, alertaram para o perigo do uso abusivo do hormônio em mulheres de diferentes idades, mas principalmente nas mais novas. Como regra geral, segundo ambas, vale a máxima “a diferença entre o veneno e o remédio é a dose”.
Depois de ouvir as especialistas fui para o WhatsApp assuntar com as amigas coroas e bem vivas. As dosagens estavam em destaque em todas as falas e “apareceu” a testosterona em gel. “Aos 51 comecei a usar e foi insuficiente. Aumentamos a aplicação da ‘testo’, mas o cabelo caiu. Dosamos e foi maravilhoso. Não estou louca por sexo, mas sempre pronta se tiver um clima, sem a preguiça que eu tinha”, contou uma amiga, antes de emendar: “Mas cresceram muitos pelos na perna, onde passo o gel ... Mas raspo ou depilo e no drama!”.
Outra amiga chamou a atenção para o humor. “Experimentei um coquetel de hormônios e minha testosterona ficou altíssima, e eu superagressiva. Diminuí a dosagem e mesmo assim, sentia uma irritação constante. Abandonei o tratamento mesmo com o médico insistindo em continuar dizendo que a testosterona alta deixa a mulher muito assertiva... o que ele achava muito legal”, contou. “Desde então, aplico uma dosagem gel de testosterona uma vez por semana. Se estou mais letárgica, chego a aplicar duas. Se estou com o pavio curto, suspendo. Aumenta a libido, me dá mais pique e energia, não interfere nos meus cabelos, mas...”.
Uma terceira amiga foi bem direta, “Prefiro me sentir bem, excitada e revigorada e acreditar que cabelo ‘tá aqui’ da forma que tem que ser! Tento cuidar dele da melhor forma possível, usando bons produtos. É mais fácil do que ter que fazer aquele teatrão na hora do sexo para ver se alguma coisa vai acontecer”, diz.
Nas rodas e grupos, os hormônios não são tabus e têm outro viés: estético. Elas usam a testosterona e hormônios para ganhar músculos, diminuir a celulite e melhorar a pele e a libido. Conversam abertamente sobre o “chip da beleza” - um coquetel de hormônios combinados para fins estéticos -, não mostram interesse em falar sobre climatério, menopausa, variações de humor e calor ou na cálvicie. Arregalam os olhos ao ouvir sobre esses assuntos (eu fazia o mesmo quando era mais nova) e logo mudam o rumo da conversa.
E quer saber? Com boa parte das mulheres 50+ não é diferente - elas evitam falar sobre o envelhecimento e menopausa. Esse foi um dos motivos que me motivou a escrever sobre os questionamentos e assuntos (quase) secretos das mulheres bem vividas. Antes do @vivaacoroa eu levantava o papo em roda de amigas íntimas e encontrava o eco da minha voz, a não interação. Isso ao vivo. Depois tinha o WhatsApp, o café mais intimista, mas sempre em tom de segredo. Percebi o sinal de que é preciso falar e falar e falar sobre os temas. É importante saber, pesquisar, trocar. Por isso estou aqui. Eu, minha testosterona e meu cabelo ralo. Com meus 53 anos, minha libido, minha vida ativa, minha curiosidade, devaneios e dúvidas.
Bem-vinda, sou Adri Coelho, autora do @vivaacoroa e não tenho todas as respostas. Busco por algumas e compartilharei todas as que eu encontrar aqui. Se eu não encontrar, vou dividir minhas dúvidas. E sempre as minhas inspirações.
A desta coluna foi Samantha. Porque a personagem, em meados de 2005, levantou a bola sobre a nova maturidade e liberdade feminina para as mulheres da minha geração. Assim como Jessa, personagem de Jemima Kirke, na série Girls (meados de 2013), levantou assuntos e inspirou mulheres que hoje têm entre 25 e 40 anos. Aliás, já assistiu Euphoria, a série jovem da vez? E já sabe da continuidade de Grace & Frankie, a série sem idade que já virou cult embora seja pop? Se não, procure saber!