Ela queria ser escritora. E escreveu na prática parte relevante da história das artes dramáticas no Brasil. Ganhadora de 4 kikitos, seria homenageada pelo Festival de Gramado, onde ganharia a estatueta Oscarito pelo conjunto de sua obra, com mais de 20 longas. Eu deixo aqui a minha homenagem à atriz e ativista, que faleceu hoje aos 90 anos.
Separei dois vídeos. No primeiro, ela está como Serafina, no filme "Orfeu Negro”, de Vinícius de Moraes. O longa, que levou a Palma De Ouro de Cannes, era uma produção franco-italiana-brasileira, que levava a tragédia grega de Orfeu e Eurídice para o morro da Babilônia, no Rio De Janeiro, com uma trilha sonora belíssima. Diz Barack Obama, em sua biografia, que o filme era dos preferidos da mãe dele.
Léa foi indicada para o prêmio de melhor atriz pelo papel, também no Festival de Cannes, perdeu para a estrela francesa Jeanne Moreau e ganhou da diva italiana Anna Magnani. Imagina esse trio? Eu sim e amo.
O segundo vídeo mostra essa mulher incrível, Lea Garcia, em uma entrevista para a série #PotênciasNegras, do canal Pequeno Muro, de um rapaz chamado Murilo, disponível no Youtube. Então, aos 86 anos, ela conversa com ele com brilho nos olhos e deixa a mensagem que destaquei aqui. Valer assistir na íntegra. Ela, o rapaz, duas cadeiras e muita história.
E pensar que, como eu já disse, Lea queria ser escritora. Tudo começou a mudar quando pegou o bonde 13, do centro do Rio De janeiro, em direção a Botafogo, onde morava. Ali conheceu e trocou telefone com Abdias Nascimento, o cara do teatro, o ativista, com quem ela foi casada e teve dois filhos. Foi Abdias quem a levou para o teatro… com algum esforço. Em entrevistas ela dizia que teatro era um palavrão na época, algo muito mal visto.
Que sorte a nossa que esse bonde 13 passou e ela pegou. E atendeu o telefone e ouviu aquele cara e abriu a cabeça, teve coragem, mudou de ideia e fez essa história tão bonita.
Viva a Léa! Viva a potência negra! Viva!