Quando menina, escrevia. Aos 20 e poucos, fugiu para se casar com um homem divorciado. Mudou-se de cidade. Teve seis filhos, dois morreram logo após o nascimento. Foi convidada para participar de um evento de vanguarda artística, mas o marido não deixou. Ficou viúva, voltou à cidade natal, criou os filhos à base do tacho de doces. Foi publicada em livro aos 76 anos.
Essa podia ser a história de muitas mulheres. De quase todas as mulheres. Talvez seja parecida com a sua. Mas é a história da poeta Cora Coralina, que faria 131 anos hoje. O evento de vanguarda a que me refiro é a Semana de 22, em que artistas fizeram um painel em São Paulo sobre a nova arte, o tal modernismo. Já a cidade natal que cito acima é Goiás. Sim, existe uma cidade chamada Goiás. Ela foi a capital do estado até os anos 30/40, antes de Goiânia. Até hoje a cidadezinha preserva o casario colonial, entre eles está o museu Cora Coralina.
A história de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas - nome de batismo de Cora - já vale por si só todas as homenagens. Mas é a sua obra poética que toca até hoje tantos corações.
Talvez porque fale da vida simples de um jeito caloroso. Talvez porque fale de amadurecimento e aprendizado com doçura e amor. E, sem dúvida, por sua qualidade que tardou a ser reconhecida, mas que enfim aconteceu.
Sua obra se tornou maior do que ela e sua então pequenina Goiás. Ganhou mundo, virou universal, como escreveu Drummond em carta a escritora: "Na estrada que é Cora Coralina passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje. O verso é simples, mas abrange a realidade vária".
E você, qual sua escritora favorita?